Os primeiros estudos sociológicos,
psicológicos e filosóficos sobre os meios de comunicação de massa foram
feitos quando se deu a expansão das ondas de rádio. Mas do que o telefone, o
telegrafo sem fio e o fonógrafo, o rádio despertou interesse por que com ele
iniciou-se efetivamente a informação e a comunicação de massa à distância.
Dois fatos nos ajudam a perceber o impacto e
a importância do rádio:
1º fato – O caso da transmissão
radiofônica de “a guerra dos mundos”, nos meados dos anos 30, o cineasta Orson
Welles e sua turma não avisaram o público de que se tratava de uma obra de
ficção científica, mas a apresentaram como se de fato Nova York estivesse sendo
invadida por alienígenas e o pânico tomou conta da cidade, pessoas fugiram de
suas casas, procurando trens, ônibus, etc...
2º fato – Utilizado pelo nazismo com
finalidade de propaganda política. Discursos de Hitler entrevistas com
militantes do partido nazista, transmissão de notícias das frentes de guerra
foram empregados para convencer a sociedade Alemã sobre a grandeza, justeza e
poderio nazista. Em outras palavras o “poder de persuasão e de convencimento”,
a capacidade mobilizadora do rádio.
No Brasil, os
anos 1940, durante a ditadura de Getúlio Vargas, foi criado pelo governo um
programa diário para transmitir as noticias oficiais e as idéias do ditador: “A voz do Brasil”.
A desinformação
é o principal resultado da maioria dos noticiários de rádio e televisão:
* Falta de
localização espacial – o espaço real é o aparelho de rádio e a tela da
televisão, que tem a peculiaridade de
retirar as diferenças e distancias geográficas, de tal modo que algo acontecido
na China, no Iraque ou em
Campina Grande pareça próximo e distante.
* Falta de
localização temporal – os acontecimentos são relatados como se não tivessem
causas passadas nem efeitos futuros; surgem como pontos puramente atuais ou
presentes, sem continuidade no tempo, sem origem e sem conseqüências.
Realidade Fragmentada
Acabamos de
mencionar o modo como o noticiário nos apresenta um mundo irreal. Em
contrapartida, as telenovelas criam o sentimento de realidade. Elas o fazem
usando três procedimentos principais:
I – O tempo dos acontecimentos
telenovelisticos é lento para dar a ilusão de que cada capitulo, passou-se
apenas um dia de nossa vida,ou passaram-se algumas horas, tais como realmente
passariam se fossemos nós a viver os acontecimentos narrados;
II – As personagens, seus hábitos, sua
linguagem, suas casas, suas roupas, seus objetos são apresentados com o máximo
de realismo possível, de modo a impedir que sintamos distantes deles (como nos
sentimos no cinema e no teatro).
III – A telenovela aparece como relato
do real, enquanto o noticiário como irreal.
Ex: a reação de cidades inteiras quando
um personagem morre (as pessoas choram, ficam de luto). Em contraponto, uma
falta de reação das pessoas diante de chacinas reais.
IV – A dispersão da atenção;
V – A infantilizaçao.
A programação se
dirige ao que já sabemos e já gostamos como toma a cultura sob a forma de lazer
e entretenimento, os meios satisfazem imediatamente nossos desejos porque não
exigem de nós atenção, pensamento, reflexão, critica, perturbação de nossa
sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não nos pedem o que as obras de
arte e de pensamentos nos pedem.
Opressão dissimulada
Um outro traço
da indústria cultural que merece nossa atenção é seu autoritarismo, sob a aparência de democracia. Um dos melhores
exemplos encontra-se nos programas de aconselhamento. Um especialista é sempre
um especialista – nos ensina a viver (CASOS DE FAMÍLIA – MÁRCIA), um outro nos ensina a criar os filhos
(SUPER NANY), um que me
ensina a me vestir (ESQUADRÂO
DA MODA) outros nos ensinam a fazer sexo, a criar o cão (Drº PET), e assim vão se sucedendo especialistas que nos ensinam a
ter um corpo juvenil e saudável, boas maneiras, jardinagem, enfim, não há um
único aspecto de nossa existência que deixe de ser ensinado por um especialista
competente. Onde se encontra o lado autoritário desse tipo de programação (no
rádio e na televisão) e de publicação (no caso de revistas, jornais e livros)?
No fato de que funcionam como intimidação
social.
De fato, como os meios de comunicação nos infantilizam,diminuem nossa
atenção e capacidade de pensamento, intervem realidade e ficção e prometem, por
intermédio da publicidade, colocar a felicidade imediamente ao alcance de
nossas mãos, acabam nos transformando num publico dócil e passivo. Uma
vez que tornamos dóceis e passivos, os programas de aconselhamento, longe de
divulgar informações (como parece ser a intenção generosa dos especialistas),
tornam-se um processo de inculcaçao
de valores, hábitos, comportamentos e idéias, pois não estamos preparados para
pensar, avaliar e julgar o que vemos,ouvimos e lemos. Por isso ficamos
intimidados, isto é, passamos a considerar que nada sabemos que somos
incompetentes para viver e agir se não seguirmos a autoridade competente do
especialista.
Dessa maneira, um conjunto de programas
e publicidade que poderiam ter
verdadeiro significado cultural tornam-se o contrário da cultura e de sua
democratização, pois se dirigem a um público transformado em massa inculta, infantil,
desinformada e passiva.
Jerry Mander (Que foi executivo e
relações públicas em rede de televisão norte-americana por 15 anos), num livro
intitulado Quatro Argumentos para
eliminar a televisão, explica por que a televisão não pode ser considerada
um meio de comunicação democrático. Seus dois principais argumentos são de
caráter econômico e tecnológico.
Do ponto de
vista ECONÔMICO:
As redes de
televisão são ou propriedades privadas ou concessões estatais para empresas
privadas, como tais operam com as idéias de lucro e de conservação de seu
próprio poder. Sendo determinado o conteúdo da programação pelo critério do
lucro (e não da qualidade) e da conservação do poder dos proprietários
(excluindo, portanto, tudo quanto possa por em perigo esse poder e também o
poder dos governos existentes, dos quais dependem as concessões).
Do ponto de
vista TECNOLÓGICO:
* Ausência de Sutileza – A televisão tem preferência por
imagens cujos sinais ou pontos sejam nítidos e tais imagens são os rostos em close-up, ou seja, vistos de muito
perto. Além disso, o que esta atrás e em volta da imagem não pode ser complexa
(muitos objetos, muitas cores), mas precisa ser o mais simples possível. Assim
nos programas geográficos ou turísticos, a câmera não consegue mostrar uma
floresta (mostra uma mancha verde ou mostra algumas arvores) ou uma cidade
(mostra uma mancha cinza ou mostra alguma rua com algumas casas); nos
noticiários e programas de debates, por exemplo, nunca vemos o todo da cena, nunca
vemos tudo o que está realmente acontecendo, mas apenas um corte, escolhido
pela câmera. É por isso que a televisão tem preferência por programas de
auditório, programas sobre violência, os chamados filmes de ação, e esportes,
isto é, todas as situações em que os sentimentos, além de serem poucos, são
previsíveis.
* Redução da percepção: A televisão só pode transmitir sinais visuais e sonoros. Além de
poder oferecer apenas imagens para a vista e a audição, as imagens visuais e
sonoras não estão conectadas: vemos imagens distantes com som próximo (por
exemplo, montanhas ao longe com nítido som de pássaros e de cachoeiras, que não
poderíamos escutar de verdade).
* Regras de transmissão: A televisão obedece a um conjunto de regras que determinam o que
é melhor para a transmissão e o que deve ser evitado. Eis algumas:
I - A guerra televisiona melhor do que
a paz por que contem muita ação e um sentimento poderoso: o medo (a paz é
amorfa e sem graça; nela as emoções são interiores e sutis e não há como
televisioná-las). Pelo mesmo motivo, violência televisiona melhor do que a
não-violência;
II - Fatos externos (ocorrências e
acontecimentos) televisionam melhor do que informações (idéias, opiniões, perspectivas),
pois é mais forte mostrar coisas e fatos do que acompanhar raciocínios e
pensamentos;
III - Afora rostos humanos, coisas
televisionam melhor do que seres vivos (pessoas, animais e plantas) porque as
coisas são simples, comunicam diretamente suas imagens numa mensagem sem
complicação enquanto as pessoas são complexas, raciocinam, se emocionam, dizem
coisas sutis;
IV - Líderes religiosos e políticos
carismáticos televisionam melhor do que os não-carismáticos, pois estes se
dirigem ao pensamento e ao sentimento das pessoas, mas aqueles se dirigem as
emoções mais simples e visíveis, que são bem transmitidas;
V - É mais fácil transmitir um só do
que muitos; por isso, nos acontecimentos de massa ou de multidão,escolhe-se uma única pessoa
para opinar e falar ou uma seqüência de pessoas entrevistadas uma a uma;
VI - É melhor transmitir organizações
hierárquicas do que democráticas, pois as primeiras têm uma forma muito simples,
qual seja a autoridade e os subordinados ou os seguidores;
VII - Assuntos curtos com começo, meio
e fim são melhores do que assuntos longos que exigem pluralidade de informações
e aprofundamento de ponto de vista;
VIII - Sentimentos de conflito
televisionam melhor do que sentimentos de concórdia; por isso, competição
televisiona melhor do que cooperação;
IX - Ambição e consumo televisionam
melhor do que espiritualidade, pois a câmera não tem como lidar com sutileza, diversidade
e ambigüidade;
X - Quando televisionar ‘povos primitivos’,
apresente música, dança, canto, caça, pesca, lutas e evite entrevistas
subjetivas nas quais se exprimem idéias, opiniões, sentimentos complexos;
XI - O bizarro e estranho televisiona
muito bem;
XII - A expressão facial é melhor do
que o sentimento: o choro televisiona melhor do que a tristeza, o riso
televisiona melhor do que a alegria;
XIII - A morte televisiona melhor do
que a vida: na morte tudo está claro e decidido, na vida, tudo é ambíguo,
fluido, não completamente decidido, aberto a muitas possibilidades.
Referência Bibliográfica: CHAUÍ, Marilena.
Convite à Filosofia: 13ª ed. São Paulo: Ática, 2006.
Sobre o Autor:
![]() | *Rodrigo Bruno de Sousa Nasceu em Altamira no Pará em 82, é bacharel em Ciências Sociais e também graduando do curso de Ciências da Religião – UEPA e participa do Grupo de Pesquisa dos Movimentos, Instituições e Cultura Evangélica da Amazônia - MICEA |
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